quinta-feira, 24 de novembro de 2011

MAGISTERIO


Quem sabe passamos a lutar ao lado dos professores?
Mario Marcos

Tenho uma humilde sugestão – que vou dividir com vocês – para resolver, definitivamente, a situação do magistério, aquela classe que só é lembrada por governantes, população em geral, pais e imprensa quando chega a seu limite de tolerância e entra em greve, como acaba de fazer.
Proponho o seguinte: que do primeiro ao último dia de cada ano, todos transformem a indignação mostrada nos últimos dias, depois da assembléia geral que decretou a greve, em pressão ao governo para que resolva de uma vez por todas a situação de penúria em que vivem os professores. Não deixem os mestres sozinhos, como tem ocorrido, historicamente.
Estou certo de que nenhum governo resistiria à pressão de pais que não sabem o que fazer com os filhos por causa da paralisação, e de alguns comunicadores, que muitas vezes só lembram da crise do magistério quando as professoras desafiam o poder e cruzam os braços. No momento em que o governo sofresse esta pressão e se convencesse de que a sociedade decidiu, solidariamente, transformar de fato a educação em prioridade real – e não em parágrafo para enfeitar discursos -, não veríamos mais o magistério ser deixado para trás em troca de qualquer pequeno trecho de asfalto. A força seria muito maior.
Mas, ironia à parte (é, estou sendo irônico ao imaginar que parte da sociedade deixe sua letargia de lado e passe a lutar ao lado dos professores), não é isso o que ocorre, certo? Nem vai ocorrer, ao que parece. Vou dar um exemplo.
Há pouco, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul pediu que os prefeitos do Estado definissem suas prioridades. Nenhum deles (vou repetir: nenhum deles) colocou a educação nos primeiros lugares. Nem os pais fazem isso. Enquanto os filhos estão nas escolas fica cômodo. A vida segue – e é por isso que ficam tão perturbados quando surge a greve. A imprensa – parte dos comunicadores, para ser justo – tem outros assuntos e esquece que o magistério continua castigado por salários miseráveis. Nem o piso nacional, aprovado por lei, é pago. E os governos, independentemente de partido, deixam o barco deslizar suavemente.
É o melhor do mundo para todos – menos para os professores.
Os professores, ao longo do ano, são invisíveis – até o momento em que chegam a seu limite, por absoluto desespero, e rompem com a pasmaceira. Não há período que agrade. Se entram em greve no início do ano, lá vem alguém dizer que ‘o ano letivo nem começou e já estão parados’. Se é no meio do ano, surge a questão do vestibular e das férias de inverno. Se surge no meio do segundo semestre, ‘ah, e quem vai fazer o Enem?’. Se é no fim do ano, como agora, pronto: não pensam nas crianças, nos estudantes que se preparam para o vestibular, nos pobres pais que terão suas festas de fim de ano perturbadas, nas famílias que já planejam o veraneio de janeiro/fevereiro.
Qual seria a época de uma greve, então? Nestas horas, todos lembram dos professores e de seus líderes – mas pelas razões erradas porque ficam acima de tudo incomodados com a greve. Acusam o magistério de fazer política, mas esquecem que o sindicato da categoria tem enfrentado todos os governos, independentemente do partido que está no poder. Ele pensa na categoria, com razão.
Os professores tornam-se, então, inconvenientes neste momento - e descobrem, espantados, que a sociedade (está bem, parte considerável dela) espera deles que trabalhem quase de graça, em escolas sucateadas, sem equipamentos, sem bibliotecas, sem segurança e, de preferência, que tratem de não reclamar, nem de paralisar que isso perturba as férias de todos. E que suportem, inclusive, agressões de alguns adolescentes, sem reagir. Mais uma vez eles sabem que a greve não levará a nada. Estão sozinhos e voltarão ainda mais desiludidos às salas de aula.
Se eu tivesse filhos na escola (os meus, que tiveram toda sua educação em instituições públicas, já estão formados), isso me preocuparia muito mais do que os incômodos de uma greve. Gostaria de ter professores motivados e não desanimados, quase sem ilusões, como confessou a diretora de uma grande escola de Pelotas ao falar na decisão de sua equipe de não paralisar as atividades. “Não vai adiantar”, confessou, com jeito de um desabafo.
Então, quem sabe, para evitar tudo isso, a sociedade mude seu comportamento, tome finalmente a decisão de assumir seu papel, passe a lutar ao lado dos professores e force o governo a tornar, de fato e de direito, a educação em prioridade – entenda-se aí toda a estrutura, da melhora nas escolas ao salário final dos mestres. Mas que não espere pela próxima greve para se manifestar. Comece a pressionar desde o primeiro dia – e nunca mais se limite a ver de longe o magistério lutar sozinho por sua dignidade.